quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Introspecção

-Por quê esta cara?
-Que cara?
-Está pálida.
-Invenção sua.
-Admita.
-Sem motivo?
-Eu sei que está assustada.
-Adivinhar não vale.
-Então está assustada?

...

-Em dúvida, talvez.
-Dúvida.
-...
-Assustada com a dúvida?
-Com a resposta.
-Mas você a tem?
-Esse é meu medo.
-Medo de ter a resposta?
-De a resposta não ser a que eu desejo.
-Agora admite que está pálida?
-Imagino que sim.

...

-O que fundamenta sua dúvida?
-É uma guerra interior.
-Um conflito ideológico?
-Uma tentativa de racionalizar o irracional.
-Prever sentimentos?
-Calculá-los.
-Pra quê isso?
-Insegurança.
-Não te leva a nada.
-Leva, sim.
-Como, então?
-Desespero, leva-me ao profundo desespero.
-Desespero por obter a resposta?
-Não.
-Desespero por quê?
-Não era o que eu queria.
-Mas pode ser diferente.
-Pode...
-Então porque não faz ser diferente?
-Não posso.
-Por quê?!
-Não depende de mim.
-Peça.
-E o orgulho?
-Não presta.

...

-Então porque continua a pensar nisso?
-Gostaria de parar.
-E não consegue?
-Impossível.
-Pare de graça.
-Eu tento, mas não consigo.
-Isso é frescura.
-Eu sei, arrependo-me.
-E não conserta?
-Pra quê?

...

-Você vai me falar ou não?
-Falar o quê?
-O que te aflige?
-Bobo de Serige!
-Ahn?
-Era pra ser engraçado...

...

-Vai, menina! Pára de enrolar!
-Não estou cozinhando.
-Está sim, meu tempo.
-Que seja.
-Você não vai responder?
-Minha mãe disse que responder é feio.
-Você se acha engraçadinha, então, né?
-Cansei de brincar.
-Agora vai responder?
-Quem sabe?

...

-Vai ou não?
-OK, mas você não venceu.
-Já disse, orgulho não presta.
-Sou egoísta, com orgulho.
-Eu te conheço muito bem.
-E daí?
-Eu sei que não gosta de ser egoísta.
-Agora você que está enrolando.
-Então fale!
-O amor não existe.
-Essa é a dúvida?
-Não, é a resposta.
-Como você chegou a essa conclusão?
-Com a cabeça.
-As memórias?
-Com certeza.
-Tá explicado.
-Não tem explicação.
-Como não?
-Ah, tem?
-O amor está no coração.
-Não existe amor, como pode estar em algum lugar?
-Você não o encontrou pois ele vêm da alma, não da cabeça.
-Louca.
-O amor é palpável, não pensável!
-Insana.
-Você já amou?
-Não.
-Tem certeza?
-Não reciprocamente.
-Só porque foi enganada?
-NÃO FUI ENGANADA!
-Viu como foi enganada?
-...
-Se não não estaria tão nervosa!

...

-Compreendo seu trauma.
-Eu também enganei eles.
-Sei.
-Eu também estou enganando você.
-Impossível.

...

-Acredite.
-Já cansei de acreditar.
-Se parar de tentar não haverá chance de sucesso.
-E nem de erro.
-Prefere morrer sozinha?
-Não.
-E então?
-Vou ter um gato.
-Independente como você?
-Sou muito independente.
-É o que você pensa.

...

-Você deveria parar de divagar sobre o amor.
-Já parei.
-Mentirosa, eu sei que pensa nisso todo o tempo.
-Você está imaginando coisas novamente.
-Mas você admitiu que estava pálida!
-Cale-se, Antítese!
-Você é muito teimosa.
-Vou te falar quem é teimosa!
-Na síntese da vida só o tempo responderá suas perguntas, Tese.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom. Muito bom mesmo. A dúvida, a incerteza, as idéias... As possibilidades, a dúvida, a medição, a dúvida, as possibilidades... A duvida.